domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
eu como um lugar mal situado
Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens agitados sem bússola onde repousem
Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados
Por todos os destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas
Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são sítios desviados
Do lugar
....
Homens que são como projectos de casas
Em suas varandas inclinadas para o mundo
Homens nas varandas voltadas para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de vasilhas esperando a chuva
Parados à espera
De um companheiro possível para o diálogo interior
Homens muito voltados para um modo de ver
Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão impreparados tão desprevenidos
Para se receber
Homens à chuva com as mãos nos olhos
Imaginando relâmpagos
Homens abrindo lume
Para enxugar o rosto para fechar os olhos
Tão impreparados tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um sistema solar
Onde seja possível uma sombra maior
...
Não levantemos os homens que se sentam à saída
Porque se movem em seus carreiros interiores
Equilibram com dificuldade uma ideia
Qualquer coisa muito nítida, semelhante
A uma folha vazia
E põem ninhos nas árvores para se libertarem
Da gaiola terrível, invisível muitas vezes
De tão dura
Não nos aproximemos dos homens que põem as mãos nas grades
Que encostam a cabeça aos ferros
Sem outras mãos onde agarrar as mãos
Sem outra cabeça onde encostar o coração
Não lhes toquemos senão com os materiais secretos
Do amor.
Não lhes peçamos para entrar
Porque a sua força é para fora e a sua espera
É a fé inabalável no mistério que inclina
Os homens por dentro
Não os levantemos
Nem nos sentemos ao lado deles.
Sentemo-nos
No lado oposto, onde eles podem vir para erguer-nos
A qualquer instante
Daniel Faria, “HOMENS QUE SÃO COMO LUGARES MAL SITUADOS”, 1998
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
pequeno-almoço em Beirut
German Phenomenology Makes Me
Want to Strip and Run through North London
Page seven - I’ve had enough of Being and Time
and of clothing. Many streakers seek quieter locations
and Marlborough Road’s unreasonably quiet tonight.
If it were winter I’d be intellectual, but it’s Tuesday
and I’d rather be outside, naked, than learned -
rather lap the tarmac escarpment of Archway Roundabout
wearing only a rucksack. It might come in useful.
I can’t take any more of Heidegger’s Dasein-diction,
I say as I jettison my slippers.
When I speak of my ambition
it is not to be a Doctor of Letters
or to marry Friedrich Nietzsche, it turns out,
or to think better.
It is to give up this fashion for dressing.
It is to drop my robe on the communal stairs
and open the front door onto the commuter hour,
my neighbour, his Labrador, and say nothing
of what I know or do not know, except what my body announces.
Heather Phillipson
poema roubado ao Faber new poets 3, Faber & Faber
sábado, 25 de junho de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
"you know how to whistle, don't you, steve?" (as coisas que levamos connosco)
(m. 1926)
enterrado com as cartas escritas pela sua mãe a servir-lhe de almofada.
(Houdini venerava a mãe, e sempre que se encontrava em Nova Iorque, visitava a sua campa diariamente. fazia-o de madrugada ou quinze minutos depois da meia-noite, a hora da sua morte)
(m. 1926)
enterrado com uma "slave bracelet" feita em platina oferecida pela sua mulher.
(esta pulseira, com que andava sempre, era usada pela imprensa para o descrever como "demasiado efeminado")
(m. 1956)
enterrado vestido com o seu figurino de Drácula.
(reza a história que no funeral, Peter Lorre ficou de tal maneira impressionado com o aspecto de Lugosi vestido de drácula que sussurrou para Vincent Price: "não achas que, só por precaução, devíamos espetar-lhe uma estaca no coração?")
(m. 1957)
enterrado com um apito de ouro colocado na sua urna por Lauren Bacall.
(esse mesmo apito foi-lhe oferecido por Bogart como recordação pelo primeiro filme que fizeram juntos: "To Have and Have Not". No filme a personagem de Bacall diz-lhe: "you know how to whistle, don't you, steve? you just put your lips together and... blow.")
(m. 1966)
enterrado com um rosário e um baralho de cartas.
(a sua mulher Eleanor, que lhe colocou os itens no caixão, revelou mais tarde: "assim, para onde quer que ele fosse, estaria preparado.")
(m. 1968)
enterrada com uma pata de coelho oferecida pelo pai.
(as suas última palavras, sussurradas na cama de um hospital nova iorquino, foram " Codaína... bourbon")
enterrado com uma garrafa de Jack Daniel's, um maço de Camel, um Zippo, um pacote de Life Savers com sabor a cereja, vários Tootsie Rolls, animais de peluche, um biscoito para cão, um rolo de moedas e uma nota da sua filha Tina que dizia "dorme bem, papá. toma conta de mim.".
(diz-se que as contas hospitalares, bem como as despesas com o funeral de Bela Lugosi, foram pagas por ele)
domingo, 24 de abril de 2011
sexta-feira, 22 de abril de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
os dedos
quarta-feira, 9 de março de 2011
isto tudo
Tudo isto já beijou a dúvida na boca. Tudo isto já fingiu ter tempo para regressar. Tudo isto já supôs que agora seria diferente. Tudo isto já se empenhou em derrotar seis ou sete pessoas. Tudo isto já foi roupa a secar e a proximidade da noite. Tudo isto já encantou o estrangeiro. Tudo isto já se sentou à espera de ver. Tudo isto já rasgou o que não interessava e o que demais interessava. Tudo isto já despiu a vergonha. Tudo isto já foi de avião à sua lucidez futura. Tudo isto já enfrentou o desespero com duas moedas apenas. Tudo isto já se cansou de buscar modos de dizer. Tudo isto já foi mercúrio. Tudo isto já caiu a meio da noite sem que ninguém lhe tocasse. Tudo isto já deu o nome errado. Tudo isto já pediu para trocar tabaco. Tudo isto já se intrometeu. Tudo isto já foi demais para caber num corpo. Tudo isto já mordeu os lábios por lhe sobrar o desejo. Tudo isto já comentou as notícias terríveis a mais de cinco metros de distância. Tudo isto já presenciou a morte e o nascimento. Tudo isto já permitiu que entrasse. Tudo isto já sentiu os nervos como cordas. Tudo isto já deixou alguém adormecer. Tudo isto já inalou o ópio suave do reencontro.Tudo isto já percebeu que pode acontecer.