- não devia ter-te deixado entrar assim na minha vida. mas deixei. quando me telefonaste, daquela vez, disse-te que sim como podia ter dito que não.
o desejo tem dessas coisas...
como tu já conheci muitas. estavas cheia de vida, de vontades, fumavas imenso...
quando aquele primeiro jantar acabou, juro-te que o que senti foi um alívio inexplicável. achei um bocado patética a tua insistência mas deixei-te vir. chovia imenso. eu estava tão cansado... tu nem me deixaste tirar o casaco. agarraste-me nos braços. não era o teu nome que eu sussurrava entredentes...
sim, os primeiros tempos foram bons. tu estavas sempre a dizer que o nosso encontro tinha que ser breve para se manter belo. e tinhas razão.
começaste a ir e a voltar dois dias depois. depois três. depois mais. (menos telefonemas) eu agradecia. porque a vontade foi diminuindo. e eu não sabia o que te dizer a maior parte do tempo... e quando a novidade deixou de o ser, o que sobrou era muito pouco. quase nada.
eu adio tudo. arrumar a casa, lavar a roupa, devolver chamadas que considero importantes… mas sobretudo adio a vida. (a vida é uma coisa que não se deseja a ninguém) sim, sim, eu sei disso. (não sei não sei não sei nada) conheço cada vez mais gente. não sei o que faço, nem porque o faço. mas continuo. quero andar para a frente. (tenho de parar) há coisas que se dizem que se desdizem. outras que não. amanhã volta tudo ao mesmo. (fugir ao tédio para trazer o tédio de volta) tu ainda dormes. eu vou deixar.
espero que oiças isto. desculpa.
1 comentário:
gostei muito deste e os dois textos juntos são uma bela ideia.
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