domingo, 9 de novembro de 2008

da casa e do cheiro dos livros




ele disse:
guarda tu isto
agora que me perderam para sempre – o tempo, as palavras, a verdade (e a falta dela), as camas desfeitas pela noite e pela manhã.
guarda-me sem pressa, como nunca souberam.
e protege-me de todos os invernos – dos caminhos de lama e das vozes mais frias (eu farei o mesmo quando descobrir como).
afaga-me as feridas com as mãos
e os lábios para que nunca mais sangrem
mesmo que sangrem de novo.
não deixes nunca que me ouça sozinho no que digo antes de adormecer.
ajuda-me a distinguir o que digo por capricho,
por vaidade ou conhecendo o efeito de antemão,
das coisa que digo num impulso,
com o coração na boca.
e espera sempre que seja eu a abraçar-te,
ainda que nunca te tenha dito o que queria.

acorda mais cedo.
e nunca me peças nada de manhã – as manhãs pertence-me. deixa-me regar os vasos da varanda e sai.
atravessa a rua enquanto ainda houver sol.
e assim haverá sempre sol
e para sempre me terás,
como para sempre me perderam por assim não o terem feito.



(manipulação de um texto de maria do rosário pedreira)

1 comentário:

Cathy Oh disse...

Confesso que me vi dividida para comentar alguns posts teus, mas como não queria «impregnar» o teu espaço com as minhas palavras, optei por fazê-lo num só comentário.
Gostei e cá voltarei. :)
Tens algures, aqui pelo meio, uns posts que muito me disseram e me fizeram sorrir quando me apercebi que os compreendia(ousadia?).

E agora que já aqui deixei uma 'marca' minha digo-te que és mais que bem-vindo ao meu espaço, onde espero que te faça sentir bem.
Obrigada pela simpatia,pela amabilidade!

Um Bejinho*


PS: Sabes? Dói-me, tragicamente, o ombro! =P