quarta-feira, 30 de julho de 2008
"lundi... raconte moi des histoires..."
ele disse:
tu, os anéis grandes.
eu, a máquina.
tu, os vestidos.
eu, a caneta.
tu, os sítios.
eu, os nomes.
tu, o guincho (almoça-se bem, sim).
eu, a cinemateca.
tu, aquela esplanada perto do rio (que não ficava tão longe assim).
eu, à noite e a pé.
tu, em silêncio.
eu, o resto.
e tu não precisas de pedir nada.
às segundas eu conto-te tudo.
terça-feira, 29 de julho de 2008
things to remember
segunda-feira, 28 de julho de 2008
o eufemismo de qualquer coisa
domingo, 27 de julho de 2008
sábado, 26 de julho de 2008
ele, eu e ele outra vez
a ele é que acontecem as coisas. eu limito-me a acompanhá-lo.
não me queixo.
eu gosto de coisas simples e ele partilha esses prazeres comigo mas... é com ele que vocês deviam falar, não comigo.
não posso dizer que nos damos mal, não damos, ao longo dos anos aprendemos a conviver e agora discutimos muito pouco. mas é com ele que vocês deviam falar, não comigo.
ambos amamos e fomos amados, traímos e fomos traídos, quisemos coisas que mais ninguém quis, vimos as mesmas pessoas crescer e partir, vivemos os dramas dos outros com a precisão de uma navalha, lemos os mesmos livros, construímos grandes palácios para imperadores que não queriam morar lá, erramos ambos com os braços abertos,...
preciso mais dele do que ele de mim.
é com ele que vocês querem falar. ele é que sabe o onde, o quando, o como e o porquê. é ele que vocês querem. ele, não eu. ele.
está aí alguém?
sexta-feira, 25 de julho de 2008
qualquer coisa a fazer lembrar-nos
quinta-feira, 24 de julho de 2008
pois é... (desculpa lá qualquer coisa)
a conversa que se segue decorreu, como convém, num local público:
e ele disse:
vá, vá, sejamos adultos em relação a isto. pensava que a criança aqui era eu.
vá, vá, sejamos adultos em relação a isto. pensava que a criança aqui era eu.
sê forte. aguenta. eu estou a tentar ser o mais justo possivel. verdadeiro. porque o que importa é que haja verdade, não é? o que importa é que nos afastemos de consciência limpa.
por favor não chores. espera que eu saia. eu não preciso de ver isso. se quiseres chama-me nomes feios. diz tudo o que fiz de errado contigo. mas não chores. o que é que eu posso fazer? eu nunca disse-----não, eu nunca disse nada desse género.
o quê?
um mentiroso, sim.
eu até pedia desculpa. sim, acredita, eu até pedia desculpa.
se me sentisse culpado.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
mas isto diz mais sobre ti...
segunda-feira, 21 de julho de 2008
the greek experience
domingo, 20 de julho de 2008
sábado, 19 de julho de 2008
punch & judy (com um sincero pedido de desculpas)
ela disse:
o quê? mas eu quero estar... eu pensava que... não acredito... tu és um sacana!!
e ele disse:
eu sei eu sei... já me disseram isso cem vezes. mas isso não muda nada. é assim mesmo. falamos depois... sim, isso. falamos depois. agora quero dormir. por favor deixa-me dormir. dedica-te a outro. eu não mereço isso tudo. a sério. que te sirva de lição para o futuro.
(ninguém morreu nem ninguém matou nesta história)
o quê? mas eu quero estar... eu pensava que... não acredito... tu és um sacana!!
e ele disse:
eu sei eu sei... já me disseram isso cem vezes. mas isso não muda nada. é assim mesmo. falamos depois... sim, isso. falamos depois. agora quero dormir. por favor deixa-me dormir. dedica-te a outro. eu não mereço isso tudo. a sério. que te sirva de lição para o futuro.
(ninguém morreu nem ninguém matou nesta história)
sexta-feira, 18 de julho de 2008
"o mar enrola na areia..."
são só coisas (o valor real de tudo isso)
quinta-feira, 17 de julho de 2008
quarta-feira, 16 de julho de 2008
a propósito de nada, um propósito
Variação 3
«Também há patos de aviário»
E: Também há patos de aviário.
G: Sim. Eu sei.
E: Que eles criam para a Páscoa e para o Dia de Acção de Graças.
G: Tu estás a confundir com perús.
E: Patos também.
G: Eles têm-nos? Em cativeiro?
E: Sim. Eles cortam-lhes as asas.
G: Ah...
E: Sim. O quê? Achas bem?
G: Os tempos mudaram.
E: Vandalismo… eles engordam-nos. São alimentados, pelos agricultores, com misturas especiais.
E também têm injecções especiais que lhes dão. Para os manter calminhos.
G: E não conseguem voar.
E: Não. Andam pela quinta o dia todo. Comem.
G: É-lhes permitido acasalar?
E: Isso não se sabe.
G: Ah?
E: Apenas alguns agricultores sabem isso.
G: Sim?
E: O acasalamento dos patos é um assunto privado entre o pato em questão e a sua parceira.
G: Sim?
E: É algo que muito poucos homens testemunharam…e aqueles que o alegam ter feito…
estranhamente preferem não falar no assunto.
G: Há coisas que é melhor não sabermos.
E: Se tu não sabes, nunca poderás ser forçado a contar.
G: Eles têm aqueles bicos para alguma coisa...
E: Tudo é para alguma coisa.
G: Bem verdade.
E: Tudo tem um propósito.
G: Verdade…
E: Tudo o que vive nesta terra abençoada…
G: Sim.
E: …tem um propósito.
G: Patos…
E: Glândulas do suor…
G: Sim.
E: Nós não suamos para nada, sabias?
G: Eu sei.
E: Tudo o que vive tem de suar.
G: Tudo tem um propósito.
(pausa)
O propópsito do suor não é, em si mesmo, muito claro.
E: Sim…
G: Mas… existe.
E: Até as coisas que nós, até este momento, não entendemos muito bem.
G: Claro como água.
E: A migraçãoo do pato para acasalar e descansar um pouco…
G: Propósito.
E: Suor…
G: Propósito.
E: Não há nada que consigas dizer que não tenha um propósito. Nem te dês ao trabalho de tentar.
Não percas tempo.
G: Não tenho pressa.
E: Tudo tem um propósito. O facto de estares, aqui e agora, sentado neste banco, tem um
propósito.
G: E assim sendo, por eliminação, também o banco.
E: A lei do universo é uma lei para si mesmo.
G: Sim. Sim.
E: E será impiedosa para com o homem que tentar brincar com ela.
G: Tu não consegues escapar com nada.
E: E se conseguisses, isso teria um propósito.
G: Ninguém sabe isso melhor do que eu.
E: …bem dito.
(em The Duck Variations de David Mamet)
terça-feira, 15 de julho de 2008
dez vezes outro
pequeno bilhete que ela encontrou ontem, caído na mesa da entrada, entre o telefone fixo e aquele pratinho azul que trouxeram de uma viagem à Madeira:
as casas dos outros são cidades estranhas. com outra língua e outro cheiro.
- posso pôr o casaco aqui?
(eu sei que posso pôr o casaco aqui, eu sei que o sítio onde ponho o casaco não importa para nada)
quando a seguir à porta da rua não vem logo a porta do quarto, vem o reconhecimento inicial
fotografias de outro tempo, a disposição de outras coisas, outros livros nas estantes
- nunca li este... é bom?
aqueles sofás mais ou menos confortáveis
- se quiseres fumar podes ir à varanda, eu vou só---
- posso pôr o casaco aqui?
(eu sei que posso pôr o casaco aqui, eu sei que o sítio onde ponho o casaco não importa para nada)
quando a seguir à porta da rua não vem logo a porta do quarto, vem o reconhecimento inicial
fotografias de outro tempo, a disposição de outras coisas, outros livros nas estantes
- nunca li este... é bom?
aqueles sofás mais ou menos confortáveis
- se quiseres fumar podes ir à varanda, eu vou só---
e depois o resto.
sim. o resto.
as outras texturas. as que só se descobrem assim.
sim. o resto.
as outras texturas. as que só se descobrem assim.
Quando acordamos lá na manhã seguinte (se acordamos lá na manhã seguinte) acordamos outra vez para um outro lugar. A luz do dia. a voz baça.
- bom dia. café?
(sim, café. sim a tudo. é esse o sítio onde estou agora)
- bom dia. café?
(sim, café. sim a tudo. é esse o sítio onde estou agora)
não sei porque te escrevo tudo isto. quer dizer, sei. mas os motivos interessam pouco. deixei de fazer perguntas, e como nunca dei respostas sinceras às perguntas dos outros tudo está onde é suposto estar.
assim como assim, quando me distraio, ainda sinto a tua falta.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
no one's gonna play the harp when you die
a minha avó sabia muito
o homem que tinha de ouvir tudo duas vezes
ela disse:
O que é que te falta? Não te falta nada. Tens tudo. E sejamos honestos. Nunca te esforçaste muito por nada. És razoavelmente bom no que fazes. Não ganhas mal. Tens saúde (és novo). Muitas ideias. Força para as concretizar. Uma família maravilhosa (é assim que se diz, não é?). Pessoas que te amam. E pessoas que só querem estar contigo pelo prazer que lhes dás. Intimidas e atrais (e isso funciona sempre bem). Tens uma beleza rara (e não, não quero dizer que és feio). És divertido. Inteligente. Articulado. Medianamente culto (dá muito jeito em conversas de café). Sabes ser intenso. Brutal até. O que é que te falta? Não te falta nada. O que é que te falta? Não, diz-me, o que é que te falta?
Não te falta nada.
Não te falta nada.
sábado, 12 de julho de 2008
bejahen #2
sexta-feira, 11 de julho de 2008
"o passado é um país estrangeiro" L.P. Hartley
"lembras-te de mim?"
em regra lembro-me mal porque qualquer coisa em todo o meu corpo se recusa a aceitar a injustiça da vida, o exercício saudoso de épocas que deixaram de ser, a recapitulação melancólica da memória.
quantos anos tenho? dá-me ideia que poucos, acabei de nascer.
nunca perguntei a ninguém
"lembras-te de mim?"
porque sou outro sempre. lembrarem-se de quê?
nunca coleccionei nada a não ser coisas impossíveis, passei os dias a procurar maçanetas em paredes sem porta.
o segredo é partir para isto sem ideias, sem planos.
deixar vir.
quantos anos tenho? dá-me ideia que poucos, acabei de nascer.
nunca perguntei a ninguém
"lembras-te de mim?"
porque sou outro sempre. lembrarem-se de quê?
nunca coleccionei nada a não ser coisas impossíveis, passei os dias a procurar maçanetas em paredes sem porta.
o segredo é partir para isto sem ideias, sem planos.
deixar vir.
---A.L.A.---
sinto-me livre.
estupidamente livre.
não me cerquem de defuntos.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
a nossa língua
terça-feira, 8 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
moi aussi, marianne.
bejahen #1
os loucos
Os loucos, não os quero ver. Não tenho nada a ver com eles. Ponham-nos num mundo à parte, para que não nos venham chatear, com médicos se quiserem mas só para eles, um mundo fechado, bem murado, bem hermético, um outro mundo – que a gente os possa esquecer. É exactamente o que pretende fazer o asilo, é a esse desejo que ele responde: constituir um outro mundo estanque aonde a loucura fique isolada. No exterior, no mundo normal, apenas a razão, apenas o bom senso – no asilo, nada de sensato. O asilo purga, decanta, purifica, recolhe entre os seus muros toda a loucura do mundo. As grades do asilo separam, demarcam: lá fora o normal, no interior o patológico. Hoje já se suspeita que uma distinção tão marcada deve ter por vezes alguma coisa de abusivo, que nem tudo é assim tão certo nas pessoas “do exterior”, e que os que estão “dentro” talvez nem sempre sejam completamente malucos, que talvez haja, como dizem os americanos, que não se preocupam tanto com os conceitos, “partes sãs na sua personalidade”. É provável que essa dúvida sempre tenha existido, mas o homem tem necessidade de certezas, sentimo-nos melhor quando as coisas são nítidas. Por isso o sistema asilar não regateou despesas, e a psiquiatria entregou-se entusiasmada à tarefa de fabricar sintomas e de provar que se um tipo está internado é porque realmente não regula bem.
sábado, 5 de julho de 2008
terça-feira, 1 de julho de 2008
to the girl that cries for no reason (last warning)
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