quarta-feira, 30 de julho de 2008

"lundi... raconte moi des histoires..."


ele disse:
tu, os anéis grandes.
eu, a máquina.
tu, os vestidos.
eu, a caneta.
tu, os sítios.
eu, os nomes.
tu, o guincho (almoça-se bem, sim).
eu, a cinemateca.
tu, aquela esplanada perto do rio (que não ficava tão longe assim).
eu, à noite e a pé.
tu, em silêncio.
eu, o resto.

e tu não precisas de pedir nada.
às segundas eu conto-te tudo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

things to remember


a man can die only once.
we owe god a debt.
if we pay it today, we don't owe it tomorrow.

Henry IV de W. Shakespeare

segunda-feira, 28 de julho de 2008

zoo #9

insert a coin and try again


- nunca ouviste a palavra acreditar?
- uma vez. mas esqueci-me.

i knew these people






















voz
harry dean stanton

música
carlos bica




o eufemismo de qualquer coisa

o que ele pensou depois de tudo:

encontrar-te.
conhecer-te.
reconhecer-te.
descobrir-te.
amar-te.

e viver sem vergonha.

domingo, 27 de julho de 2008

zoo #8 (the pet)


i love my dog.

and she loves me.

zoo #7


as coisas que deixamos para depois


ele disse:
agora regresso a casa por outro caminho.
depois de amanhã nunca mais regresso a casa.

sábado, 26 de julho de 2008

zoo #6


ele, eu e ele outra vez


a ele é que acontecem as coisas. eu limito-me a acompanhá-lo.
não me queixo.
eu gosto de coisas simples e ele partilha esses prazeres comigo mas... é com ele que vocês deviam falar, não comigo.
não posso dizer que nos damos mal, não damos, ao longo dos anos aprendemos a conviver e agora discutimos muito pouco. mas é com ele que vocês deviam falar, não comigo.
ambos amamos e fomos amados, traímos e fomos traídos, quisemos coisas que mais ninguém quis, vimos as mesmas pessoas crescer e partir, vivemos os dramas dos outros com a precisão de uma navalha, lemos os mesmos livros, construímos grandes palácios para imperadores que não queriam morar lá, erramos ambos com os braços abertos,...
preciso mais dele do que ele de mim.
é com ele que vocês querem falar. ele é que sabe o onde, o quando, o como e o porquê. é ele que vocês querem. ele, não eu. ele.

está aí alguém?

zoo #5


sexta-feira, 25 de julho de 2008

qualquer coisa a fazer lembrar-nos


ela disse:
mas tu prometeste. tu disseste que iamos juntos até ao fim.


e ele disse:
sim. até ao fim da noite. só.

"vita nouva"


eu tinha os meus pés naquela parte da vida onde não se pode ir sem regressar.


dante alighieri

quinta-feira, 24 de julho de 2008

pois é... (desculpa lá qualquer coisa)



a conversa que se segue decorreu, como convém, num local público:

e ele disse:
vá, vá, sejamos adultos em relação a isto. pensava que a criança aqui era eu. 
sê forte. aguenta. eu estou a tentar ser o mais justo possivel. verdadeiro. porque o que importa é que haja verdade, não é? o que importa é que nos afastemos de consciência limpa. 
por favor não chores. espera que eu saia. eu não preciso de ver isso. se quiseres chama-me nomes feios. diz tudo o que fiz de errado contigo. mas não chores. o que é que eu posso fazer? eu nunca disse-----não, eu nunca disse nada desse género. 
o quê?
um mentiroso, sim. 
eu até pedia desculpa. sim, acredita, eu até pedia desculpa.
se me sentisse culpado.

zoo #4

terça-feira, 22 de julho de 2008

e pronto.

mas isto diz mais sobre ti...


uma coisa é o que eles falaram.
outra o que ele pensou em dizer:


sabes... uma liberdade desabitada será sempre a pior forma de solidão.



só isso.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

zoo #3

the greek experience














- do you love me?
- no.
- will you love me?
- no. i don´t think so.
- do you find me atractive?
- yes. very.
- that's good enough.

zoo #2

domingo, 20 de julho de 2008

as pessoas que rezam


prom night dumpster baby



















she will be remembered.
but she won't be missed.

sábado, 19 de julho de 2008

punch & judy (com um sincero pedido de desculpas)

ela disse:
o quê? mas eu quero estar... eu pensava que... não acredito... tu és um sacana!!

e ele disse:
eu sei eu sei... já me disseram isso cem vezes. mas isso não muda nada. é assim mesmo. falamos depois... sim, isso. falamos depois. agora quero dormir. por favor deixa-me dormir. dedica-te a outro. eu não mereço isso tudo. a sério. que te sirva de lição para o futuro.




(ninguém morreu nem ninguém matou nesta história)

zoo #1

sexta-feira, 18 de julho de 2008

"o mar enrola na areia..."


às vezes é melhor as histórias não chegarem a ser contadas.
porque contar uma história é como deixar uma porta mal fechada.

são só coisas (o valor real de tudo isso)


onde há pessoas, dizem, há coisas.
Isso quererá dizer que, admitindo as coisas, se tem de admitir as pessoas?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

these are not my shoes...


a propósito de nada, um propósito


Variação 3
«Também há patos de aviário»


E: Também há patos de aviário.

G: Sim. Eu sei.

E: Que eles criam para a Páscoa e para o Dia de Acção de Graças.

G: Tu estás a confundir com perús.

E: Patos também.

G: Eles têm-nos? Em cativeiro?

E: Sim. Eles cortam-lhes as asas.

G: Ah...

E: Sim. O quê? Achas bem?

G: Os tempos mudaram.

E: Vandalismo… eles engordam-nos. São alimentados, pelos agricultores, com misturas especiais.
E também têm injecções especiais que lhes dão. Para os manter calminhos.

G: E não conseguem voar.

E: Não. Andam pela quinta o dia todo. Comem.

G: É-lhes permitido acasalar?

E: Isso não se sabe.

G: Ah?

E: Apenas alguns agricultores sabem isso.

G: Sim?

E: O acasalamento dos patos é um assunto privado entre o pato em questão e a sua parceira.

G: Sim?

E: É algo que muito poucos homens testemunharam…e aqueles que o alegam ter feito…
estranhamente preferem não falar no assunto.

G: Há coisas que é melhor não sabermos.

E: Se tu não sabes, nunca poderás ser forçado a contar.

G: Eles têm aqueles bicos para alguma coisa...

E: Tudo é para alguma coisa.

G: Bem verdade.

E: Tudo tem um propósito.

G: Verdade…

E: Tudo o que vive nesta terra abençoada…

G: Sim.

E: …tem um propósito.

G: Patos…

E: Glândulas do suor…

G: Sim.

E: Nós não suamos para nada, sabias?

G: Eu sei.

E: Tudo o que vive tem de suar.

G: Tudo tem um propósito.
(pausa)
O propópsito do suor não é, em si mesmo, muito claro.

E: Sim…

G: Mas… existe.

E: Até as coisas que nós, até este momento, não entendemos muito bem.

G: Claro como água.

E: A migraçãoo do pato para acasalar e descansar um pouco…

G: Propósito.

E: Suor…

G: Propósito.

E: Não há nada que consigas dizer que não tenha um propósito. Nem te dês ao trabalho de tentar.
Não percas tempo.

G: Não tenho pressa.

E: Tudo tem um propósito. O facto de estares, aqui e agora, sentado neste banco, tem um
propósito.

G: E assim sendo, por eliminação, também o banco.

E: A lei do universo é uma lei para si mesmo.

G: Sim. Sim.

E: E será impiedosa para com o homem que tentar brincar com ela.

G: Tu não consegues escapar com nada.

E: E se conseguisses, isso teria um propósito.

G: Ninguém sabe isso melhor do que eu.

E: …bem dito.

(em The Duck Variations de David Mamet)

terça-feira, 15 de julho de 2008

conto de fadas (escrito no chão)


dez vezes outro


pequeno bilhete que ela encontrou ontem, caído na mesa da entrada, entre o telefone fixo e aquele pratinho azul que trouxeram de uma viagem à Madeira:


as casas dos outros são cidades estranhas. com outra língua e outro cheiro.
- posso pôr o casaco aqui?
(eu sei que posso pôr o casaco aqui, eu sei que o sítio onde ponho o casaco não importa para nada)
quando a seguir à porta da rua não vem logo a porta do quarto, vem o reconhecimento inicial
fotografias de outro tempo, a disposição de outras coisas, outros livros nas estantes
- nunca li este... é bom?
aqueles sofás mais ou menos confortáveis
- se quiseres fumar podes ir à varanda, eu vou só---

e depois o resto.
sim. o resto.
as outras texturas. as que só se descobrem assim.

Quando acordamos lá na manhã seguinte (se acordamos lá na manhã seguinte) acordamos outra vez para um outro lugar. A luz do dia. a voz baça.
- bom dia. café?
(sim, café. sim a tudo. é esse o sítio onde estou agora)

não sei porque te escrevo tudo isto. quer dizer, sei. mas os motivos interessam pouco. deixei de fazer perguntas, e como nunca dei respostas sinceras às perguntas dos outros tudo está onde é suposto estar.

assim como assim, quando me distraio, ainda sinto a tua falta.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

às vezes felicidade é só isto...


o teu indicador.
e peta zetas.





(para ti)

no one's gonna play the harp when you die

Everyone's afraid of their own life.

If you could be anything you want

I bet you'd be disappointed, am I right?

You were the dull sound of sharp math
When you were alive.

(If I had a nickel for every damn dime I'd have half the time...)

Do you mind?

a minha avó sabia muito


sabes filho, quando se passa a vida toda com as mãos na terra, um pratinho de arroz doce e um copo de vinho do porto, mais que um prazer, é loiça para lavar.

"o belo e a consolação"



se o universo é a resposta...
qual é a pergunta?

o homem que tinha de ouvir tudo duas vezes


ela disse:
O que é que te falta? Não te falta nada. Tens tudo. E sejamos honestos. Nunca te esforçaste muito por nada. És razoavelmente bom no que fazes. Não ganhas mal. Tens saúde (és novo). Muitas ideias. Força para as concretizar. Uma família maravilhosa (é assim que se diz, não é?). Pessoas que te amam. E pessoas que só querem estar contigo pelo prazer que lhes dás. Intimidas e atrais (e isso funciona sempre bem). Tens uma beleza rara (e não, não quero dizer que és feio). És divertido. Inteligente. Articulado. Medianamente culto (dá muito jeito em conversas de café). Sabes ser intenso. Brutal até. O que é que te falta? Não te falta nada. O que é que te falta? Não, diz-me, o que é que te falta?
Não te falta nada.

sábado, 12 de julho de 2008

bejahen #2

não me lembro de ter chegado lá.

havia álcool, calor e vontade.
o barulho das luzes, o suor dos outros, a confusão...
e aquele turista inglês que não parava de olhar para nós, aos gritos...

"she's the best slow dancer in the world!"

eu, tu e o peso da história


e ele disse-lhe:
foi assim mesmo.
criaste um deserto.
e chamaste-lhe paz.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"o passado é um país estrangeiro" L.P. Hartley


"lembras-te de mim?"
em regra lembro-me mal porque qualquer coisa em todo o meu corpo se recusa a aceitar a injustiça da vida, o exercício saudoso de épocas que deixaram de ser, a recapitulação melancólica da memória.
quantos anos tenho? dá-me ideia que poucos, acabei de nascer.
nunca perguntei a ninguém
"lembras-te de mim?"
porque sou outro sempre. lembrarem-se de quê?
nunca coleccionei nada a não ser coisas impossíveis, passei os dias a procurar maçanetas em paredes sem porta.

o segredo é partir para isto sem ideias, sem planos.
deixar vir.

---A.L.A.---

sinto-me livre.
estupidamente livre.

não me cerquem de defuntos.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

a nossa língua


e ele disse:
Eu só quero que saibas que às vezes saem coisas da minha boca que em nada se assemelham a palavras.




ela sorriu.
e apagou a luz.

terça-feira, 8 de julho de 2008

a morada permanente




a retenção dos momentos.
o brilho sempre renovado.

this cancer's on remission




The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

moi aussi, marianne.

e ele disse:
hoje voltei a ver-te.
agora só preciso de te encontrar.
há qualquer coisa na tua cara...



espero que esperes.

bejahen #1


e ela disse:
à noite a cidade mete medo de tão sem ninguém.
à noite a cidade apazigua de tão sem ninguém.
à noite a cidade sou eu de tão sem ninguém.

e ele não disse nada.

"é preciso sobretudo sugerir alguma coisa"


porque o indizível nunca é silêncio.
e o silêncio é o que destrói.

os loucos


Os loucos, não os quero ver. Não tenho nada a ver com eles. Ponham-nos num mundo à parte, para que não nos venham chatear, com médicos se quiserem mas só para eles, um mundo fechado, bem murado, bem hermético, um outro mundo – que a gente os possa esquecer. É exactamente o que pretende fazer o asilo, é a esse desejo que ele responde: constituir um outro mundo estanque aonde a loucura fique isolada. No exterior, no mundo normal, apenas a razão, apenas o bom senso – no asilo, nada de sensato. O asilo purga, decanta, purifica, recolhe entre os seus muros toda a loucura do mundo. As grades do asilo separam, demarcam: lá fora o normal, no interior o patológico. Hoje já se suspeita que uma distinção tão marcada deve ter por vezes alguma coisa de abusivo, que nem tudo é assim tão certo nas pessoas “do exterior”, e que os que estão “dentro” talvez nem sempre sejam completamente malucos, que talvez haja, como dizem os americanos, que não se preocupam tanto com os conceitos, “partes sãs na sua personalidade”. É provável que essa dúvida sempre tenha existido, mas o homem tem necessidade de certezas, sentimo-nos melhor quando as coisas são nítidas. Por isso o sistema asilar não regateou despesas, e a psiquiatria entregou-se entusiasmada à tarefa de fabricar sintomas e de provar que se um tipo está internado é porque realmente não regula bem.

sábado, 5 de julho de 2008

terça-feira, 1 de julho de 2008

to the girl that cries for no reason (last warning)


embrace me,
i'm your long lost,


don't waste me,

'cause i wont last long
(and i wont comeback)




i'm your here i am.