terça-feira, 15 de julho de 2008

dez vezes outro


pequeno bilhete que ela encontrou ontem, caído na mesa da entrada, entre o telefone fixo e aquele pratinho azul que trouxeram de uma viagem à Madeira:


as casas dos outros são cidades estranhas. com outra língua e outro cheiro.
- posso pôr o casaco aqui?
(eu sei que posso pôr o casaco aqui, eu sei que o sítio onde ponho o casaco não importa para nada)
quando a seguir à porta da rua não vem logo a porta do quarto, vem o reconhecimento inicial
fotografias de outro tempo, a disposição de outras coisas, outros livros nas estantes
- nunca li este... é bom?
aqueles sofás mais ou menos confortáveis
- se quiseres fumar podes ir à varanda, eu vou só---

e depois o resto.
sim. o resto.
as outras texturas. as que só se descobrem assim.

Quando acordamos lá na manhã seguinte (se acordamos lá na manhã seguinte) acordamos outra vez para um outro lugar. A luz do dia. a voz baça.
- bom dia. café?
(sim, café. sim a tudo. é esse o sítio onde estou agora)

não sei porque te escrevo tudo isto. quer dizer, sei. mas os motivos interessam pouco. deixei de fazer perguntas, e como nunca dei respostas sinceras às perguntas dos outros tudo está onde é suposto estar.

assim como assim, quando me distraio, ainda sinto a tua falta.

3 comentários:

violeta13 disse...

o que fica?
e quanto duram as visitas? umas horas? um/dois anos?
e quando desaparece a descoberta das coisas estranhas, será que não volta? presa na cauda da memória?

depois disto...
gosto disto que deixaste.
gosto até muito.

beijo & até já

Anónimo disse...

a toast to all unexpected questions that got honest answers (from you)

L. disse...

cara nouei (sim,acredito que sejas tu), eu sou muita coisa. honesto não é uma delas. ***